A decretação da liquidação extrajudicial do Banco Master S/A e de suas controladas em novembro de 2025 representa um ponto de inflexão na história recente da regulação bancária e da criminalidade financeira no Brasil. Este relatório, elaborado com rigor técnico e profundidade analítica, disseca a trajetória da instituição desde sua reestruturação a partir do antigo Banco Máxima até o seu colapso ignominioso sob o peso de fraudes contábeis estimadas em R$ 12 bilhões.
A análise abrange as dimensões operacionais, regulatórias, criminais e políticas do caso. Examinamos a “Operação Compliance Zero” da Polícia Federal, que expôs uma “fábrica” de títulos podres e carteiras de crédito fictícias; o envolvimento pernicioso de Regimes Próprios de Previdência Social (RPPS) e do Banco de Brasília (BRB); e o desafio monumental imposto ao Fundo Garantidor de Créditos (FGC), que enfrenta o maior sinistro de sua história, projetado em R$ 41 bilhões. O documento detalha ainda a arquitetura da fraude, o perfil dos protagonistas e as ramificações sistêmicas para o mercado de crédito de médio porte no Brasil.
Introdução e Contexto Institucional
A compreensão da debacle do Banco Master exige, preliminarmente, uma análise de sua gênese corporativa e do ambiente regulatório em que operava. O colapso não foi um evento súbito, mas o resultado de uma estratégia de negócios insustentável, mascarada por engenharia contábil e negligência na governança corporativa.
A Metamorfose: Do Banco Máxima ao Banco Master
A instituição que viria a protagonizar um dos maiores escândalos financeiros da década foi fundada originalmente em 1970 sob a denominação de Banco Máxima. Durante décadas, o Máxima operou como uma instituição de pequeno porte, com atuação discreta focada em nichos de mercado imobiliário e investimentos.1 No entanto, em meados da década de 2010, o banco enfrentava desafios de solvência e estagnação operacional, típicos de instituições que não conseguiam escala em um mercado bancário altamente concentrado.
A virada estratégica ocorreu em 2017, quando Daniel Bueno Vorcaro, um empresário mineiro com raízes no setor imobiliário, adquiriu participação acionária relevante na instituição.2 Vorcaro, então um outsider na tradicional Avenida Faria Lima, trouxe consigo uma visão de expansão agressiva e modernização tecnológica. Em 2018, consolidou-se a reestruturação da marca: o Banco Máxima foi rebatizado como Banco Master.
A mudança de branding foi acompanhada de uma narrativa corporativa sofisticada. Em comunicados ao mercado e entrevistas, a nova diretoria enfatizava que a alteração da razão social não implicava mudança no CNPJ ou na equipe técnica, mas sim um novo “posicionamento mercadológico”.3 A promessa era “pulverizar serviços financeiros”, focando em crédito consignado, tecnologia e varejo digital. Sob a liderança de Vorcaro, o banco buscou se desvencilhar da imagem conservadora do antigo Máxima para se apresentar como um player dinâmico, alinhado com a revolução das fintechs.
A Ascensão Quantitativa: Crescimento Anômalo (2019-2024)
Entre 2019 e 2024, o Banco Master apresentou indicadores de desempenho que, sob a ótica da análise fundamentalista tradicional, seriam considerados excepcionais — ou, como se comprovou posteriormente, inverossímeis. O patrimônio líquido da instituição saltou de patamares modestos de R$ 200 milhões para expressivos R$ 4,7 bilhões em um intervalo de cinco anos.4 Paralelamente, a carteira de crédito expandiu-se de R$ 1,4 bilhão para R$ 40 bilhões, um crescimento percentual que superava largamente a média do setor bancário nacional, mesmo considerando o boom do crédito no período pós-pandemia.4
Os balanços auditados continuaram a reportar lucros crescentes, culminando em um resultado líquido reportado de R$ 1 bilhão no exercício de 2024.5 Esse crescimento “meteórico” atraiu a atenção do mercado, mas também gerou ceticismo entre analistas de risco mais prudentes. A instituição justificava seus números através da expansão no crédito consignado e operações estruturadas, mas a velocidade da alavancagem indicava uma agressividade incompatível com práticas conservadoras de gestão de risco bancário.
A Estratégia de Funding: O Custo da Alavancagem
Para sustentar essa expansão vertiginosa de ativos, o Banco Master necessitava de um fluxo constante e crescente de passivos (funding). A estratégia adotada foi a captação agressiva junto ao investidor de varejo e institucional através da emissão de Certificados de Depósito Bancário (CDBs).
O banco notabilizou-se por oferecer taxas de remuneração significativamente superiores às de seus pares, frequentemente atingindo marcas de 130% a 150% da taxa CDI (Certificado de Depósito Interbancário) ou taxas pré-fixadas muito acima da curva de juros futuros.4 Essa precificação agressiva funcionava como um ímã para investidores ávidos por rendimento, especialmente em um cenário de volatilidade econômica. A garantia do Fundo Garantidor de Créditos (FGC) para aplicações de até R$ 250 mil funcionava como o principal argumento de venda das corretoras e agentes autônomos, criando uma percepção de “risco soberano” para um risco de crédito privado altamente especulativo.7
Essa dependência de “hot money” — capital volátil atraído exclusivamente por taxas altas — criou uma dinâmica perversa: para honrar os juros elevados dos depósitos antigos e cobrir os custos operacionais de sua expansão, o banco precisava captar volumes cada vez maiores, configurando as premissas de um esquema Ponzi corporativo.
O Colapso: A Intervenção Regulatória e a Liquidação
O desenlace da trajetória do Banco Master ocorreu em 18 de novembro de 2025, data que marca o fim da tolerância regulatória e o reconhecimento oficial da insolvência da instituição.
O Ato de Liquidação Extrajudicial
O Banco Central do Brasil (BCB), no exercício de suas atribuições de supervisão e regulação do Sistema Financeiro Nacional (SFN), decretou a liquidação extrajudicial do Banco Master S/A, do Banco Master de Investimento S/A, do Banco Letsbank S/A e da Master S/A Corretora de Câmbio, Títulos e Valores Mobiliários.9 O ato, assinado pelo Diretor de Regulação Gilneu Francisco Astolfi Vivan e pelo Presidente Gabriel Galípolo, fundamentou-se na Lei nº 6.024/74, citando o “comprometimento significativo da situação econômico-financeira” e a existência de “graves violações às normas legais e regulamentares”.9
A liquidação extrajudicial é a medida administrativa mais severa no arsenal do regulador bancário, implicando o afastamento imediato dos administradores, o fechamento das operações e a nomeação de um liquidante para gerir a massa falida. Diferentemente da intervenção ou do RAET, que visam o saneamento, a liquidação reconhece a inviabilidade da continuidade da empresa.
Tabela 1: Entidades do Conglomerado Master e Status Pós-Intervenção
| Entidade | CNPJ / Natureza | Status Decretado em 18/11/2025 | Implicação Imediata |
| Banco Master S/A | Banco Múltiplo | Liquidação Extrajudicial | Encerramento de atividades; Indisponibilidade de bens dos controladores. |
| Banco Master de Investimento S/A | Banco de Investimento | Liquidação Extrajudicial | Encerramento de atividades. |
| Banco Letsbank S/A | Banco Múltiplo | Liquidação Extrajudicial | Encerramento de atividades; Clientes migram para massa falida. |
| Master S/A Corretora | Corretora de Valores | Liquidação Extrajudicial | Cessação de operações de câmbio e títulos. |
| Banco Master Múltiplo S/A* | Holding Bancária | RAET | Regime de Administração Especial Temporária para preservar controladas. |
| Will Financeira (Will Bank) | Instituição de Pagamento | Operação Preservada | Mantida fora da liquidação direta para venda estratégica. |
*Nota: O Banco Master Múltiplo S/A foi colocado sob RAET especificamente para isolar a estrutura do Will Bank, permitindo sua negociação. 9
O Liquidante: Perfil e Desafios
Para conduzir o complexo processo de desmonte da instituição, o Banco Central nomeou a empresa EFB Regimes Especiais de Empresas, cujo titular é Eduardo Félix Bianchini.11 A escolha de Bianchini não foi aleatória; trata-se de um técnico veterano, servidor aposentado do Banco Central desde 2012, com um histórico robusto em gestão de crises bancárias.
Desde sua aposentadoria, Bianchini atuou como liquidante ou interventor em pelo menos oito processos distintos, incluindo os casos da Uniletra Corretora e da Pioneer Corretora.12 Sua empresa, a EFB, fundada em agosto de 2021 com um capital social simbólico de R$ 1.000,00 e sediada em um apartamento residencial no bairro de Higienópolis, São Paulo, funciona como veículo jurídico para sua atuação profissional.12 A estrutura enxuta da empresa liquidante contrasta com a magnitude do passivo que agora administra, o que sugere que a condução do processo dependerá fortemente da contratação de assessoria jurídica e contábil externa, custeada pela própria massa falida.
As atribuições de Bianchini incluem a arrecadação e avaliação de ativos, a verificação de créditos, a representação judicial da massa falida e a condução dos pagamentos aos credores, seguindo a ordem de preferência legal (trabalhistas, fiscais, garantidos e quirografários).
Anatomia da Fraude: A Operação Compliance Zero
Enquanto o Banco Central atuava na esfera administrativa, a Polícia Federal (PF) e o Ministério Público Federal (MPF) desnudavam a natureza criminal das operações do Master. A Operação Compliance Zero, deflagrada em 17 de novembro de 2025, revelou um esquema de fraude financeira de proporções industriais.
A “Fábrica” de Papéis Podres e a Engenharia Contábil
O inquérito policial, alimentado por relatórios de inteligência financeira do COAF e do próprio Banco Central, estimou o rombo financeiro provocado pelas fraudes em R$ 12 bilhões.2 O mecanismo central da fraude consistia na emissão deliberada de títulos de crédito falsos, notadamente Cédulas de Crédito Bancário (CCBs), sem lastro real.
As investigações apontam que o Banco Master criou uma verdadeira “fábrica” de crédito fictício. O modus operandi envolvia:
- Emissão de CCBs Falsas: O banco emitia títulos de crédito em nome de empresas de fachada, “laranjas” ou até mesmo empresas legítimas que desconheciam a operação. Esses títulos eram contabilizados no ativo do banco como créditos saudáveis (Rating AA ou A), inflando artificialmente o patrimônio líquido e a capacidade de alavancagem.6
- Carteiras de Consignado Fictícias: Uma vertente específica da fraude envolvia o crédito consignado. O banco forjava carteiras de empréstimos consignados, simulando fluxos de pagamento futuro descontados em folha que, na realidade, inexistiam. Investigações revelaram que documentos foram criados com datas retroativas a 2024, mas assinados digitalmente apenas em 2025, numa tentativa tosca de justificar buracos contábeis detectados pela auditoria.15
- A “Troca de Figurinhas”: Para ocultar a inadimplência desses títulos falsos, o Master realizava operações cruzadas com outras instituições financeiras (como o BRB). O banco vendia carteiras de crédito podre para terceiros, recebendo dinheiro novo. Quando a fiscalização do BC questionava a qualidade desses ativos no balanço do comprador, o Master recomprava ou substituía os títulos por outros ativos igualmente problemáticos, mas com “aparência” de novos, postergando indefinidamente o reconhecimento do prejuízo. A PF descreveu essa prática como “substituição por outros ativos sem avaliação técnica adequada”.7
A Rede de Associações e a Capilaridade da Fraude
A complexidade do esquema envolvia ramificações em associações de servidores. Na Bahia, a Polícia Federal cumpriu mandados de busca e apreensão nas sedes da Asseba e da Asteba, entidades ligadas a servidores públicos estaduais.18 A suspeita é de que essas associações tenham sido utilizadas como vetores para a “legalização” ou simulação das carteiras de crédito consignado fraudulentas, ou ainda para o pagamento de comissões indevidas (propinas) para viabilizar a alocação de recursos.18 A dificuldade de contato com os representantes dessas entidades durante a operação reforça a suspeita de irregularidades em sua gestão.
Cronologia da Queda e a Conexão BRB
A derrocada do Banco Master acelerou-se ao longo de 2024 e 2025, impulsionada pelo escrutínio regulatório sobre suas tentativas desesperadas de obter liquidez através de fusões e aquisições.
A Negociação Frustrada com o Banco de Brasília (BRB)
Uma das peças centrais do escândalo é a relação promíscua entre o Banco Master e o Banco de Brasília (BRB). Durante meses, as instituições negociaram uma operação que envolveria a injeção de capital do banco estatal no banco privado, sob a justificativa de expansão estratégica. O BRB chegou a anunciar a intenção de adquirir participação no Master, em um negócio avaliado em cerca de R$ 2 bilhões.19
No entanto, em setembro de 2025, o Banco Central vetou a operação. A autoridade monetária, já monitorando as inconsistências nos balanços do Master, identificou que a fusão representaria um risco de contágio inaceitável para o banco público e para o sistema financeiro regional.20 O veto foi o primeiro sinal público de que a situação do Master era crítica.
A Tentativa de “Salvamento” pelo Grupo Fictor
Nas vésperas da liquidação, em uma última tentativa de evitar o colapso, surgiu em cena o Grupo Fictor, através de sua subsidiária Fictor Holding Financeira. Em 17 de novembro de 2025, um dia antes da intervenção, foi anunciada uma proposta de compra do Banco Master por um consórcio liderado pela Fictor, supostamente apoiado por fundos dos Emirados Árabes Unidos.21
A operação, no entanto, desmoronou em menos de 24 horas. A análise preliminar dos números do Master e a iminência da ação policial levaram à desistência imediata. Investigadores suspeitam que o anúncio da venda para a Fictor pode ter sido, na verdade, uma manobra diversionista orquestrada por Daniel Vorcaro para ganhar tempo ou justificar sua saída do país.16 O Grupo Fictor, que possui braços no agronegócio (Fictor Alimentos – FICT3), já enfrentava seus próprios problemas, tendo sofrido um furto cibernético de R$ 24 milhões em sua plataforma de pagamentos (FictorPay) no mês anterior.22
A Prisão de Daniel Vorcaro e a Fuga Interrompida
A consumação da crise deu-se com a prisão de Daniel Vorcaro. Na noite de 17 de novembro de 2025, horas antes da publicação do decreto de liquidação, agentes da Polícia Federal detiveram o banqueiro no Aeroporto Internacional de Guarulhos.6 Vorcaro estava prestes a embarcar em um voo privado com destino final presumido na ilha de Malta, um conhecido refúgio para capitais internacionais, com escala em Abu Dhabi.6
A defesa de Vorcaro alegou posteriormente que a viagem tinha fins corporativos — a assinatura do contrato com investidores árabes — mas a PF interpretou o movimento como uma tentativa clara de fuga para evitar a aplicação da lei penal brasileira.23 A prisão preventiva foi decretada para garantia da ordem pública e da aplicação da lei penal, sendo mantida pelo Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF-1) em sede de habeas corpus.24
O Fator Humano e Político: Protagonistas e Cúmplices
O escândalo do Banco Master não se resume a números; ele é povoado por figuras influentes da elite financeira e política.
Daniel Vorcaro: O “Bilionário Ostentação”
A figura de Daniel Bueno Vorcaro é emblemática dos excessos da era do crédito fácil. Descrito na imprensa como o “bilionário ostentação”, Vorcaro utilizava os recursos drenados da instituição para financiar um estilo de vida extravagante. A Operação Compliance Zero apreendeu bens que ilustram esse padrão: além de obras de arte e relógios de alta relojoaria, foi confiscado um jato executivo Dassault Falcon 7X, avaliado em aproximadamente R$ 200 milhões.25 Vorcaro também investiu pesadamente em visibilidade, adquirindo participação na SAF (Sociedade Anônima do Futebol) do Clube Atlético Mineiro, injetando cerca de R$ 300 milhões.25 Essa exposição pública servia como um escudo de reputação, projetando uma imagem de sucesso que mascarava a insolvência do banco.
Augusto Lima e as Conexões Políticas
Outra figura chave presa na operação é Augusto Ferreira Lima, ex-sócio de Vorcaro e executivo influente no banco. Lima possui conexões políticas profundas em Brasília; ele é marido de Flávia Arruda, ex-deputada federal e ex-Ministra-Chefe da Secretaria de Governo durante a administração de Jair Bolsonaro.6 Essa conexão levanta questões sobre a influência política utilizada pelo banco para facilitar negócios com entes públicos e fundos de pensão.
A Cúpula do BRB: Paulo Henrique Costa
O impacto no Banco de Brasília foi devastador para sua governança. Paulo Henrique Costa, presidente do BRB, foi afastado do cargo por determinação judicial e teve prisão temporária decretada (posteriormente revogada ou não renovada em alguns casos conexos), juntamente com o diretor financeiro Dario Oswaldo Garcia Junior.19 A acusação é de gestão temerária e fraudulenta na aprovação das compras de carteiras do Master. A crise instaurou um terremoto político no Distrito Federal, levando à abertura de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) na Câmara Legislativa para investigar a responsabilidade do governador Ibaneis Rocha e de seus aliados na gestão do banco estatal.27
O Contágio Institucional: RPPS e Fundos de Pensão
Uma das facetas mais perversas da fraude do Banco Master foi o direcionamento sistemático para a captação de recursos de Regimes Próprios de Previdência Social (RPPS), colocando em risco a aposentadoria de servidores públicos em diversos estados.
A Exposição do Rioprevidência
O caso mais grave identificado é o do Rioprevidência, fundo de pensão dos servidores do estado do Rio de Janeiro. Investigações revelaram que o fundo alocou aproximadamente R$ 2,6 bilhões em investimentos ligados ao ecossistema do Banco Master.29 Esse montante representa uma concentração crítica, equivalente a cerca de 25% de todo o portfólio de investimentos da autarquia.29
Os aportes foram realizados predominantemente em 2024 e 2025, ignorando alertas expressos do Tribunal de Contas do Estado do Rio de Janeiro (TCE-RJ) sobre irregularidades na gestão e o risco de concentração. Grande parte desses recursos foi direcionada a fundos de investimento “multimercado” ou de direitos creditórios (FIDCs) geridos ou lastreados por ativos do Master, muitos dos quais não contam com a garantia do FGC.29 A perspectiva de recuperação desses valores é baixa, ameaçando a solvência futura do sistema previdenciário fluminense.
A Rede Nacional de Fundos Afetados
O Rioprevidência não foi a única vítima institucional. O relatório identificou que pelo menos 18 fundos de previdência municipais e estaduais mantinham investimentos no Banco Master.30 Entre os afetados estão:
- Maceió Previdência: Com aporte estimado em R$ 100 milhões. A conexão política entre a prefeitura de Maceió e lideranças do Congresso Nacional (como o grupo do deputado Arthur Lira) é citada em análises políticas como um facilitador para essas alocações.32
- Fundo Previdenciário do Amazonas: Também listado entre os credores institucionais.32
- Institutos Municipais de São Paulo: Fundos das cidades de São Roque e Cajamar também constam na lista de investidores expostos.32
A estratégia de captar recursos via RPPS, oferecendo taxas acima de mercado para gestores pressionados por metas atuariais (ou cooptados politicamente), replica um padrão histórico de fraudes bancárias no Brasil, remetendo aos escândalos dos bancos BVA e Cruzeiro do Sul.
Impacto no Investidor e o Fundo Garantidor de Créditos (FGC)
A liquidação do Banco Master desencadeou o maior evento de pagamento de garantias da história do sistema financeiro brasileiro.
O Desafio de R$ 41 Bilhões
O Fundo Garantidor de Créditos (FGC) estima que existam cerca de 1,6 milhão de credores elegíveis ao ressarcimento, com um volume total de garantias a serem pagas na ordem de R$ 41 bilhões.4 Esse valor é sem precedentes e testará a liquidez e a eficiência operacional do Fundo.
Apesar da magnitude, o presidente do FGC, Daniel Lima, assegurou ao mercado que a entidade possui reservas robustas (cerca de R$ 122 bilhões em ativos líquidos antes do evento) para honrar os pagamentos sem risco sistêmico imediato.33 O fundo cobre até R$ 250 mil por CPF/CNPJ, sujeito ao teto global de R$ 1 milhão a cada quatro anos.
O Processo de Ressarcimento
O rito para o pagamento segue etapas estritas, que podem gerar ansiedade nos investidores:
- Consolidação da Lista de Credores: O liquidante (EFB) deve compilar os dados de todos os depósitos e enviá-los ao FGC. O prazo médio histórico para essa etapa é de 30 dias úteis, mas a desorganização contábil do Master pode estender esse período.34
- Solicitação via Aplicativo: Os credores devem utilizar exclusivamente o aplicativo oficial do FGC para realizar o cadastro biométrico e solicitar o pagamento.34
- Pagamento: Após a validação, os recursos são transferidos para a conta indicada em até 48 horas.36
Credores Quirografários e Perdas Irrecuperáveis
Para investidores com aplicações acima do teto de R$ 250 mil, ou detentores de títulos não cobertos (como debêntures, letras financeiras não elegíveis ou cotas de fundos que investiam no banco), o cenário é de perda quase total. O excedente torna-se crédito quirografário na massa falida. Historicamente, em liquidações fraudulentas como esta, a recuperação de ativos para pagar quirografários é ínfima e ocorre após anos ou décadas de disputas judiciais. Empresas listadas em bolsa e outros agentes corporativos que compraram títulos do Master também enfrentam write-offs (baixas contábeis) significativos.37
O Futuro das Subsidiárias: Will Bank e Letsbank
O conglomerado Master possuía braços operacionais distintos, cujo destino diverge no processo de liquidação.
Will Bank: A Joia da Coroa Preservada?
O Will Bank, banco digital focado nas classes C e D, operava sob a estrutura da holding, mas com marca e operação relativamente independentes. O Banco Central optou por uma estratégia cirúrgica: ao invés de liquidar o Will Bank, colocou sua controladora direta (Banco Master Múltiplo) sob RAET. O objetivo explícito é preservar o ativo para uma venda ordenada.9
O Will Bank reportou receita de R$ 2,8 bilhões em 2023 e recebeu aportes relevantes de private equity da XP e da Atmos (R$ 250 milhões em 2021).1 A presença de conselheiros independentes, como Chu Kong, e figuras midiáticas como Vinicius Júnior (embaixador da marca), confere ao Will um valor de franquia que o liquidante tentará monetizar para pagar os credores do Master. A operação continua ativa, mas sob estrita vigilância para evitar fuga de capitais ou contaminação reputacional.38
Letsbank: O Fim da Linha
Em contraste, o Banco Letsbank S/A foi liquidado sumariamente junto com a matriz.9 Sem o apelo comercial ou a escala do Will Bank, o Letsbank foi considerado inviável e seus ativos serão liquidados para compor a massa falida. Clientes desta instituição enfrentam o mesmo processo de ressarcimento via FGC que os do Banco Master.
Perspectivas Sistêmicas
A liquidação do Banco Master encerra um ciclo de permissividade com o crescimento artificial no sistema bancário de médio porte. As lições extraídas deste episódio ecoarão por anos na regulação e no mercado.
Falhas de Supervisão e Governança
O caso expõe lacunas na supervisão contínua. Como uma instituição pôde crescer 20 vezes em 5 anos, operando com taxas fora da realidade e emitindo bilhões em títulos falsos, sob os olhos da auditoria independente e do regulador? A responsabilidade das empresas de auditoria que validaram os balanços do Master será, indubitavelmente, objeto de processos administrativos na Comissão de Valores Mobiliários (CVM).39
O Risco Moral (Moral Hazard) e o Investidor
Para o investidor brasileiro, o colapso do Master é um lembrete brutal sobre a relação risco-retorno. A garantia do FGC, embora eficaz para evitar corridas bancárias sistêmicas, pode ter criado um risco moral excessivo, incentivando a alocação de capital em instituições insolventes apenas pela busca de rendimento ( yield ). O episódio deve provocar uma reprecificação do risco de crédito bancário privado no Brasil, encarecendo o funding para bancos menores e exigindo maior transparência.
O Legado Político-Criminal
Por fim, as conexões políticas reveladas — do governo do Distrito Federal às prefeituras de Alagoas e ao governo do Rio de Janeiro — demonstram que o “banco de negócios” operava também como um banco de influência política. A Operação Compliance Zero é apenas o início de uma longa jornada judicial para deslindar a teia de lavagem de dinheiro e corrupção que sustentou, por tempo demasiado, a miragem do Banco Master.
Cronologia Detalhada da Crise
| Período | Evento | Detalhes |
| 1970-2017 | Fase Máxima | Banco Máxima opera como instituição de nicho; enfrenta dificuldades financeiras. |
| 2017-2018 | Entrada de Vorcaro | Daniel Vorcaro adquire controle; Rebranding para Banco Master. |
| 2019-2023 | Expansão Agressiva | Crescimento exponencial de ativos; Emissão massiva de CDBs a 150% do CDI. |
| 2024 | Negociação BRB | BRB anuncia intenção de investir R$ 2 bi; início da due diligence e operações cruzadas. |
| Set/2025 | Veto do BC | Banco Central nega autorização para a operação com o BRB por irregularidades. |
| Out/2025 | Crise de Liquidez | Agravamento da situação de caixa; FictorPay (do potencial comprador) sofre ataque cibernético. |
| 17/Nov/2025 | Dia D – Manhã | Anúncio da compra pelo Grupo Fictor (manobra diversionista). |
| 17/Nov/2025 | Dia D – Noite | PF deflagra Operação Compliance Zero; Daniel Vorcaro preso em Guarulhos tentando fugir. |
| 18/Nov/2025 | Liquidação | BC decreta Liquidação Extrajudicial do conglomerado; Eduardo Bianchini assume como liquidante. |
| Nov/2025 | Pós-Liquidação | FGC inicia preparação para pagar R$ 41 bi; CPI aberta no DF; Rioprevidência contabiliza perdas. |
Tabela 3: Principais Investigados e Status Legal (Novembro 2025)
| Nome | Cargo / Relação | Situação Legal | Acusações Principais |
| Daniel Vorcaro | Controlador / Dono | Preso Preventivamente | Gestão fraudulenta, Org. Criminosa, Lavagem de Dinheiro. |
| Augusto Lima | Ex-Sócio / Diretor | Preso | Conexão política, fraude financeira. |
| Paulo Henrique Costa | Presidente do BRB | Afastado / Investigado | Gestão temerária, prejuízo ao erário (BRB). |
| Dario Garcia Jr. | Diretor Financeiro BRB | Afastado / Investigado | Aprovação de operações fraudulentas. |
| André F. O. Seixas Maia | Diretor de empresa ligada | Preso Temporário (Solto) | Envolvimento em empresas de fa |















